quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

O Que Fica Quando o Tempo Passa?

o que fica quando o tempo passa?

Todos nós sabemos que vamos morrer. Todos sabemos que, um dia, o nosso corpodeixará de acompanhar o nosso desejo de viver. Sabemos que sim...mas escolhemos ignorar esse facto. Preferimos viver num engodo, em que "amanhã fazes isso...Não há pressa".


A sociedade ocidental, ao contrário de outras, em vez de ver a mortecomo justificação da vida, escolhe ignorá-la. Vemos a morte como umadoença para a qual ainda não encontramos a cura e procuramos, e sempreprocuraremos, o elixir da eterna juventude...


Outro tipo de visão têm os budistas, por exemplo, que tentam encarar a morte como algo natural e não choram perto dos moribundos, escolhendo, nesta hora derradeira, dar-lhes antes algum conforto psicológico, garantir-lhes que este não é o fim.
O que fazemos tem algo a ver com a religião predominante no ocidente, o cristianismo.Por acharmos que não temos mais nenhumaoutra vida para viver, escolhemos ignorar que a vida quetemos irá acabar um dia. Mas, não deveria ser ao contrário?


Sabemos que a morte é real, sabemos que não podemos evitá-la. Então, ignoramo-la enquanto podemos. Sabemos que, após a morte, reina o nada, a não-vida, mas escolhemos acreditar numa vida para além da morte, como uma espécie de embalo, de bela mentira que nos faz viver um bocadinho mais felizes.


Mas não podemos, quer acreditemos num Deus, quer não, deixar a felicidade como um objectivo que iremos cumprir após a morte. Se tivermosoportunidade, porque não procurar a felicidade plena nesta vida? É preciso que deixemos de vera morte como tema tabu e só pensar nela quando a morte nos beija e não podemos fugir... Porque não viver, VIVER enquanto podemos e abraçar a morte como aquilo que ela é: o fim de uma vida, de um ciclo e que, como em tudo, lhe dá valor?


Porque não aproveitar o concreto, enquanto o tempo não foge e deixar de lado odeixa andar e aceitar a morte como algo natural...?


Porque, afinal de contas, o que fica quando o tempo passa? Fica a saudade do que já foi e a memória do que se viveu ou fica o arrependimento, por não termos vivido?

Um comentário:

Daniela Espírito Santo disse...

Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjetividade objetiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-rne para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o rnundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...

Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-rne toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...

O porvir...
Sim, o porvir...

"adiamento"- alvaro de campos